Como o 5G vai transformar a sociedade nos próximos cinco anos?
Por Claudio Yuge |
A Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), que compreende uma rede conectada a vários objetos e estruturas do cotidiano — e não somente os dispositivos a que estamos mais familiarizados —, é um conceito que existe há anos e que já vem sendo explorado em várias frentes, como em casas inteligentes e veículos autônomos. A chegada da quinta geração de internet móvel, que começa a partir de 2020 em todo o mundo, deve acelerar bastante esse setor.
Isso porque o 5G deve entregar velocidades muito mais altas e com latência bem menor que o 4G — a expectativa é de que, teoricamente, seja 20 vezes mais rápida e atinja picos de 20 GB por segundo. O ápice atual chega a 1 GB por segundo. Isso significa que a conexão que você usa a 10 Mb por segundo hoje em dia pode se transformar em 100 Mb por segundo nos próximos anos.
Essa mudança deverá tornar o mundo todo ainda mais conectado e com troca de informações mais veloz. É aí que a IoT promete entrar estar mais presente.
Os números da IoT nos próximos anos
De acordo com o Business Insider, é possível que tenhamos 40 bilhões de dispositivos de IoT espalhados pelo mundo até 2023 — e estamos falando de tudo quanto é tipo de aparelho, não somente carros conectados ou smart speakers.
Somente nos Estados Unidos, estima-se que o número de bugigangas inteligentes ultrapasse 1 bilhão nos próximos cinco anos, com cada família gastando em torno de US$ 725 nesse nicho. Isso representa um total de US$ 90 bilhões no período.
O setor industrial, que promete investir cada vez mais em automação e ambientes conectados, deve implantar aproximadamente 6 milhões de sistemas robóticos em todo o mundo. Os gastos anuais de fabricação, montagem e soluções de IoT devem chegar a US$ 450 até 2023.
Já os governos devem introduzir pequenas máquinas de IoT para estimar o desenvolvimento de cidades inteligentes, a exemplo de câmeras que se comunicam entre si, luzes de rua inteligentes, e medidores em rede capazes de fornecer análises de tráfego, uso de serviços públicos, crimes e fatores ambientais — tudo em tempo real. O investimento anual deverá atingir quase US$ 900 bilhões até 2023.
Como a IoT vai mudar nossas vidas?
As smart cities já são uma realidade em muitos países, com cidades que possuem sensores em cada prédio ou rua, o que permite à administração municipal criar um verdadeiro mapa 3D da planta. Em Cingapura, por exemplo, os dados geoespaciais oferecem ao governo uma visão detalhada de todos os locais, para que os planejadores urbanos possam estudar incidentes de inundação, consumo de energia, congestionamento de tráfego e surtos de doenças.
Outro avanço atualmente em desenvolvimento conjunto com a IoT são os carros autônomos. Como rastreadores devem se multiplicar para manter a conexão ampla e consistente, vai ficar mais fácil para os sistemas mapearem o trânsito, as pessoas e os arredores em tempo real. Além disso, serviços integrados, como o de meteorologia, podem também ajudar na projeção de riscos e de fluxo nas ruas.
A agricultura e a pecuária serão dois mercados que vão usar muito a IoT. O primeiro deve aprimorar o uso de drones para monitoramento da safra, melhorar o gerenciamento automático para uso da água, analisar constantemente as condições do solo e aprimorar as operações com máquinas autônomas. Já o segundo pode observar melhor o comportamento de animais, inclusive das abelhas, que estão sumindo, para otimizar todas atividades, desde o tratamento até a alimentação.
Onde já temos IoT?
Não precisa ir muito longe para observar onde a IoT já está funcionando. Por enquanto, não há tantos sensores ou rastreadores e o 4G é compartilhado com muitos celulares e computadores, então as soluções são mais simples e mais direcionadas para segurança e casas inteligentes.
Entre os exemplos que podemos citar atualmente estão os smart speakers e smart displays; os rastreadores conectados a Bluetooth, como chaveiros; portas e cadeados de bicicletas com trancas inteligentes; objetos de cozinha e iluminação que se comunicam por meio de apps, entre outros.
Quais são os cinco maiores desafios?
Bem, obviamente, tudo o que se espera do 5G e da IoT depende de uma séries de fatores — e alguns exigem estudos e ações bastante complexas. Por isso, mesmo com a chegada tímida do 5G no próximo ano, ainda deve demorar um pouco para que vejamos todos esses avanços em plena ação. Entre os maiores desafios para o setor estão:
1. Regulamentação dos governos
Enquanto alguns negócios já vêm abraçando a IoT, outros ainda estão em dúvida porque aguardam posicionamento do governo. Isso não somente por conta de detalhes com relação à infraestrutura, mas também sobre a regulamentação.
Imagine uma metrópole como São Paulo com um número cada vez mais crescente de dispositivos conectados.Como esses aparelhos vêm de muitas fontes diferentes, incluindo parceiros e fornecedores internacionais, como uma agência reguladora localizada controla a qualidade, a segurança e a privacidade das remessas recebidas? E até que ponto a responsabilidade estaria sob a jurisdição municipal, estadual ou federal?
2. Preocupação com privacidade e segurança
A IoT vem sendo desenvolvida para evitar os mesmos erros relacionados à privacidade e à segurança nos dispositivos atuais. Mas, como sabemos, não existe uma bala de prata para nenhum sistema e, com o aumento massivo de produção, troca e armazenamento de dados, essa questão fica ainda mais em evidência.
A maior preocupação está relacionada à nuvem. Análise recente do Big Data/Made Simple prevê uma perda de até US$ 120 bilhões em consequências econômicas na remoção de apenas um datacenter de nuvem. Os relatórios também indicam gastos de mais de US$ 1 trilhão por ano no setor de crimes cibernéticos — um salto recorde em comparação com 2017, que registrou cerca de US$ 300 bilhões.
3. Satisfação do consumidor
A partir dos anos 1990, a ampla disponibilidade de acesso à Internet mudou para sempre a forma como os consumidores compram. Isso também mudou o foco do cliente: de produtos padronizados produzidos em massa, para itens e serviços personalizados.
Com 2020 no horizonte, os clientes têm expectativas mais altas do que nunca. De acordo com um relatório recente da Salesforce, 57% dos compradores estão mais interessados em fazer negócios com uma empresa inovadora ou com visão de futuro, e 50% não hesitarão em mudar de marca se suas necessidades não forem atendidas.
4. Problemas de conectividade
Atualmente, a IoT utiliza um modelo centralizado de servidor-cliente para fornecer conectividade aos vários servidores, estações de trabalho e sistemas. Isso por enquanto é eficiente, pois o setor ainda engatinha, mas o que vai acontecer quando centenas de bilhões de dispositivos estiverem todos usando a rede simultaneamente?
De acordo com relatórios atualizados do Gartner, mais de 20 bilhões de unidades individuais se conectarão à IoT até o ano que vem. É apenas uma questão de tempo até que os usuários comecem a sofrer gargalos significativos, tanto na comunicação com as redes, quanto na sua eficiência e desempenho geral.
5. Atualização e manutenção constante de hardware e pessoal
Independentemente de como uma empresa use a IoT ou a nuvem, a integridade dos dados é um desafio comum a todos os grupos. Com tantos dados provenientes de várias fontes, é difícil separar informações úteis das conversas irrelevantes.
Por isso, é essencial calibrar os sensores regularmente, assim como qualquer outro tipo de dispositivo elétrico. Os componentes de última geração estão incorporados em muitos aparelhos diferentes e é difícil sincronizar o fluxo de dados entre as máquinas sem ajuda de equipes profissional e hardware/software atualizados.
Fonte: Business Insider, Engineering, Postscapes, iSelect, Big Data/Made Simple